sábado, 30 de junho de 2012

Cuba Libre.

Amarelo canário é a cor da areia da ampulheta que giro entre os dedos, insistente e sem esperar, na impaciência dos que acompanham cada parada do ponteiro dos segundos visualizados microscopicamente em cada grão de areia que transpassa o minúsculo espaço da cintura do vidro. Mas o vento seca a lágrima e o tempo empurra tudo pra frente.
O cheiro que o tempo tem embriaga as entranhas junto com a fumaça que dança no compasso do silêncio desses pulmões impudicos. São bocas que calam diante de olhos que gritam. Frente que controversamente parece costas. Nessa costa de mar com gosto de lágrima. E pirraça. É a vida que a noite fria é esquentada com profundos goles de iniciante. E como duas cobras, essas mentes brigam entre seus inconscientes de duas almas inquietas. Na madrugada. O fogo carece do ar porém  tudo vira água. Mais um gole. Esôfagos queimam.  E o álcool desidrata a palavra que se perde. O  violão no canto da sala não erra o mesmo acorde, a regência de um maestro imbricado no som da soprano resulta na inutilidade da composição.
O mundo gira e na parede um pequeno quadro de girassol em cores frias. É o inverno que chega trazendo a vontade da carne, porque a alma já é uma só. Aquela alma que se pendura no varal frente a quem  não se importa com essa roupa exposta e deixa a chuva molhar. Nenhuma palavra se torna válida porque os ouvidos que a ouvem semelham a chão duro e frio que me sento. Mais um gole. Não é a cachaça que me trava e sim o choque de pensamentos em palavras nesse agora. Somos duas sendo uma, o que faz tudo mudar o tempo todo seguindo a mesma linha, cor e batida de coração. A diferença é a igualdade do real. Mas todas as minhas críticas lembranças, foram extremadas e anuladas pelas gratidões apologísticas. A vida é feita dessas pequenas diferenças que se tornam semelhanças da divergência do nosso ser. Quem sente sabe.
Na clarividência dessa quietude, três almas vagantes na fria madrugada perturbam a nossa vã existência . O líquido precioso se enfurece e derrama-se, flui ao chão. Terminam-se os goles.  Os corpos presentes afligem as mentes homicidas que, filhas do carbono,  escoam em água e entupem o ralo da inspiração.
FIM.

- Por Cecília Pinheiro e Amannda Santos