Carinho é aquele gesto guiado pelo sentimento que vem de
dentro pra fora, tocando de fora pra dentro a outra pessoa. Sorrisos, olhares,
palavras, canto e cheiro – tudo aquilo que alcança a nossa alma, nos deixando
plenos. Aprendi tudo isso quando era criança. Eu sei a importância do encontro
das mãos e todos os gestos seguidos no depois de cada completude de um
encontro. A emoção invade e eu fico grande. Meus olhos molham, meus lábios não
se fecham e meu coração palpita feito um atabaque em uma maravilhosa noite de
Xirê. Me sinto povoada, cheia de fogos de artifício de dentro pra fora. Não
consigo decifrar ao certo, bem, como isso acontece. Acontece e não existe
palavra. Sou filha de Rei. Sou filha do fogo. Sou a parte de mim e a outra
parte também. Sou. No carinho, somos. Maria segue com sua voz, tocando nas
partes mais puras e profundas dentro em mim. Eu canto. Ela me canta. Eu me
apaixono. Ela não sabe.
Lembro da voz dela falando: “Linda. Menina linda. Você é
linda.” Nesse momento pensei: se ela
soubesse o tanto que a gente se conhece... dos bons vinhos e whiskys juntas, de
quantas vezes me ergueu e me deu coragem... se ela soubesse... Tanta coisa,
tanta coisa.
Fico imaginando um reencontro. Eu não quero fotos, nem pegar
no cabelo dela, nem nada que muita gente quer. Acho importante saber o quanto a
gente mexe dentro do outro. Eu só vou querer o bom e velho abraço de sempre. O
sorriso, as piadas e o olhar. Um dia ela vai saber de tudo. Das partes que
tornam um completo. Eu sei quem é Maria: raio, rio, rainha, voz, interpretação,
mulher e menina. Maria é carinho. Maria é Bethânia.
Com carinho e gratidão, a Maria Bethânia, de Amannda Mattos.
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